segunda-feira, 3 de março de 2008

A Escola da Ponte

Por vezes a humanidade me surpreende...Sempre me imaginei uma sonhadora compulsiva. Porque tirando o coelhinho da páscoa, o príncipe encantado e o creme pra celulite e acredito em tudo que a maioria sabe ser unanimamente impossível! Acredito em amor e na educação, em gente que faz o bem só por bondade mesmo, sem nenhum outro interesse... eu acredito em tudo que os outros dizem ser absurdo.
Na segunda feira descobri que realmente nada sei dessa vida! Que vivo sem saber! Nem a sonhar me ensinaram. Logo de manhã cedo, ia eu mal humorada para a primeira reunião de professores do ano. Mal humorada porque era de manhã e fim de férias... A palestra que me esperava talvez mudasse o rumo de toda a prosa e fizesse aquela manhã transformar-se em pura poesia! Um senhor, barba branca e voz tranqüila, começou sua fala de maneira inovadora:
- QUE QUEREM SABER?

Como assim que queremos saber? Tá maluco o coitado! Quero saber primeiro quem você é? Depois porque cargas d’águas é você quem está aí com esse microfone na mão, e, por fim, já que me ofereces assim todo o conhecimento, quase como um oráculo, quero também saber o número da sena que é pra voltar pras férias permanentes!
OK! OK! Isso tudo até passou pela minha cabecinha, mas minha voz controlou-se e eu, pacientemente, esperei! O senhor, bem a minha frente, começou a falar sobre sua vida... a discorrer sobre seus sonhos e seu jeito de fazer. Contou-me a lenda de uma escola sem salas, sem turmas, sem série... Uma escola meio mágica onde os alunos eram pessoas na função de alunos e os professores eram especialistas... num lugar em que o silêncio era feito apenas porque todos sabiam que assim deveria ser e onde cada um aprendia ao seu tempo e com seu caminho particular. A medida em que ele coloria a tela dos sonhos dele, eu ia imaginando um mundo todo sobre aquelas nuances... E me perguntava o que faltava? Mas o senhor de barba branca insistentemente continuava, e, abusadamente, me apresentava possibilidades que eu desconhecia, sonhos que não sabia nem sonhar! Eu queria ir embora dali naquele momento, ir me com ele pra esse mundo mágico do qual ele falava com tanta propriedade. Queria alunos assim, tão bons quanto ele contava...

Mas ele foi além.

Disse-me, com educação e polidez, mas disse.... que a culpa de um aluno não aprender era minha, porque era eu quem não sabia ensinar. Chegou a ferir meu ego, mas diante de tanto sonho, realmente isso não importava muito! Veja só, logo eu não saberia ensinar? ...eu que tenho me orgulhado nesses curtos anos de ter dado aulas criativas e interativas... de ter inovado!INOVADO??? EU??? INOVADO O QUE? Eu havia feito coisas boas, sabia disso.... mas precisava de bem mais que isso! E depois de tirar o chão em que eu pisava, afinal nada tinha feito eu de mais, só sonhado o que já se sabia, ele deu-me uma nova morada! A casa não seria tão confortável quanto a de antes... Era como um abrigo sob uma “PONTE”! Ponte e sonho!O velho de barba branca, reconfigurou meu mapa mundi, trouxe ao centro Portugal e a Escola da Ponte! E ensinou-me que a Utopia não deixa de ser linda só porque tem anos de história! Deu-me sonho, certeza, morada nova... desconforto e angústia para perseguir o ideal! Deu-me por fim frio na barriga e ânsia por fazer! Deu-me esperança!Fez tudo isso de jeito simples... falou da vida, sem muito cientificismo e “rebuscamento”. Falou dele, sem muito egoísmo ou auto promoção! Contou-me histórias de gente de verdade... com sonhos que eu não sabia sonhar e com coragem que eu desconheço ... e, foi assim, que tocou profundamente meu coração

Um comentário:

O Fantasma de Chet Baker disse...

Oi Marcela,
seu blog é ótimo. Somos da mesma cidade. Legal, né? Olha, se der, dá uma passadinha no meu. Ah, e dá uma olhada no post "Livro Heróico". Considere-se desde já, convidada!

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